AMOR CANIBAL

Estamos livres das opressões aos sentimentos, podemos já, nos libertar para os sentidos e instintos primitivos devidamente calibrados para o desfrute de um amor selvagem.


O amor selvagem


Que sorte! Um leão faminto na savana africana, avista uma antílope, de carne deliciosa como todo membro da família bovídea. Ao leão, sua memória de predador lembra o sabor da última refeição que lhe foi difícil como todas, lhe nutriu, lhe satisfez momentaneamente, seus momentos com a última presa, um gnu, que raivoso na fuga, lhe rendeu aumento na experiência com caça, lembrou-se por segundos de como foi a conquista anterior, o gnu foi nervoso, deu coices muito impetuosos, lhe feriu um pouco o olho direito, mas acabou se rendendo e nas presas do leão, derramou seu sangue, se tornou um banquete ao faminto leão e aos seus, sua carne macia, como manjar do céu se desfazia na saliva do felino, suas entranhas se tornaram repositório de sabores e satisfação de um trabalho finalizado.
Cabe agora ao leão, mais experiente a cada caçada realizada, executar, como exímio predador os movimentos certos, na direção certa, na velocidade certa, usando a força e a intensidade certa, mais se parece com mais uma fórmula física nesta vasta biosfera, mas a natureza nos revela um espetáculo da sobrevivência, como Darwin e Wallace propuseram a tempos atrás, a sobrevivência de uma espécie em relação à outra faz parte poder da adaptação.



Como esse leão, faminto pelo seu alimento, eu desejo te devorar, um canibalismo de alma,
devorar quem é você, me nutrir daquilo que também te deixa vivo, sei que até aqui tivemos
nossas caçadas, entre devoros e apavoros, você chegou até mim, como uma fera meu
ímpeto de te devorar me sobe em todas as veias, olho sua zona frágil, que me atina o sentido
de predador, no meio do pescoço, se mirar não tem erro, consigo lhe capturar, lhe imobilizar,
lhe domar como minha, minha presa e meu banquete, um banquete onde desfruto como um
imperador romano diante de sua mesa, onde escolho a melhor parte pra não só me matar a fome,
o ímpeto, o anseio, não só me dar saciedade, não só me dar os nutrientes que me deixam vivo,
mas um banquete onde eu desfruto os sabores, os doces e salgados, ardidos e azedos da sua
existência. 

Meu ímpeto nesse canibalismo de alma, também me desperta a vontade de ser devorado,
uma sensação de reciprocidade de brutalidade, de consumir e ser consumido, de arder nas
chamas do desejo, e não só suprir necessidades da existência, mas existir e sentir que existo.
Com você eu quero ver o movimento das partículas e das moléculas que compõem o nosso
organismo, se fundindo em uma só, uma só carne, um só desejo, um só intento. 



Mal a gente se viu, mal a gente se falou, é muito recente, mas como uma ligação animal,
os caminhos se encontram nessa selva que é a vida, o instinto de sobrevivência fala mais
alto nesse mundo cão, uma verdadeira selva que nos devora a alma, temos que devorar
antes de sermos devorados. E eu como um louco que ainda busca viver, te vi como um
alívio ao meu anseio de estar e continuar a estar vivo, a vida que corre nas nossas veias
pede muito mais do que temos tido. 

Mal vejo a hora de estar nos teus braços, entrelaçado e alvoroçado, com o ofegante
da respiração intensamente entre o curto espaço entre nós dois. 

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