Vila Montecelli: entre a fé, a luta e a memória

 

🌆 Vila Montecelli: entre a fé, a luta e a memória

📍 Localização e vizinhança

A Vila Montecelli nasceu e cresceu em um ponto estratégico de Goiânia, cercada por instituições marcantes:

  • Ao lado do clube da Saneago e da antiga Secretaria da Fazenda (hoje Economia);

  • Próxima à Cavalaria da Polícia Militar;

  • Ao fundo do Parque Agropecuário da SGPA, vizinho também do Parque Mutirama e do Parque Botafogo;

  • E colada ao atual Hospital de Reabilitação Dr. Henrique Santillo (CRER), que no passado foi o sombrio manicômio Adauto Botelho.

Esse entorno já mostra um bairro marcado por contrastes: de um lado, grandes prédios estatais e áreas de lazer, de outro, uma comunidade popular com histórias de luta, resistência e solidariedade.


⛪ Igreja, fé e infância

No coração do bairro está a Igreja Nossa Senhora de Lourdes, junto da maternidade de mesmo nome. Foi ali que muitos nasceram, se batizaram e viveram a fé.

Na mesma quadra funcionava o projeto Pré-Adolescente, da Associação Servos de Deus: um espaço quase escolar, que oferecia café da manhã, almoço, lanche, oficinas, atividades educativas e culturais. Para muitas crianças e jovens, foi uma bênção que transformou vidas.

Ainda ao redor, o Seminário de padres reforçava a ligação da Montecelli com a Igreja Católica, que foi não só guia espiritual, mas também agente social.


🏫 Educação

A escola estadual Professora Olga Mansur formou gerações do bairro. Ali muitos concluíram o ensino médio, e junto dela o cotidiano da infância foi marcado por atividades comunitárias, como a Escola Bíblica de Férias da Igreja Presbiteriana do Crimeia Leste e até cinemas de rua promovidos em tempos de maior integração social.


🏥 O peso do Adauto Botelho

Até se transformar no moderno CRER, o antigo manicômio Adauto Botelho marcou o bairro com histórias duras:

  • Relatos de maus-tratos e choques;

  • Mulheres internadas compulsivamente pelos maridos;

  • Abusos sexuais e gravidezes forçadas;

  • Fugas de internos que assustavam moradores;

  • Pessoas nuas circulando pelo pátio.

Memórias de sofrimento que ainda ecoam no bairro, como cicatrizes de uma época em que a loucura era tratada com violência e exclusão.


🐂 Cotidiano e histórias inusitadas

A vida também teve seus episódios curiosos: como quando um touro fugiu do Parque Agropecuário/SGPA e percorreu as ruas da Montecelli, para a alegria das crianças, que transformaram o susto em aventura.

Nos anos 2000, a chegada de famílias migrantes, sobretudo vindas do Maranhão, trouxe novas culturas e novos desafios. Muitas moravam em casas improvisadas perto do córrego que deságua no Rio Meia Ponte, reforçando o caráter popular da região.


⚖️ Criminalidade e resistência

Com o crescimento populacional também veio a criminalidade. O bairro foi marcado pelo tráfico e por constantes incursões policiais. Eram comuns os “baculejos”, quando jovens eram revistados pelas viaturas da PM.

Mesmo assim, a rua não deixava de ser espaço de vida:

  • Crianças brincando,

  • Jovens dançando axé e break dance,

  • Showmícios de políticos movimentando a comunidade.


👥 Lideranças comunitárias

A Montecelli sempre teve figuras de liderança popular:

  • Oswaldo, Yan, Ivanildo e Wellington Moreira, atuantes na associação de moradores.

  • Wellington chegou a se candidatar a vereador, mas nunca se elegeu — foi, no entanto, grande cabo eleitoral.

Esses nomes mantinham a chama da organização comunitária acesa, mesmo em meio às dificuldades.




🛒 Comércio e personagens do bairro

A economia local girava em torno de bares e mercearias que se tornaram pontos de encontro e referência:

  • João Barrão, Tuti e Beth, que começaram com mercadinho e depois abriram o bar de Roberval;

  • Bar do Ismail, famoso pela sinuca e pelas abordagens policiais;

  • Bar do Zé Grandão, cearense de postura firme, que depois virou mercearia;

  • Seu Biba, o carroceiro, memória de um ofício quase extinto;

  • Mercearia da Dona Tina, que cresceu e vendeu fiado para todos, sustentando a comunidade;

  • Bar do Alberto, que parecia um palco musical, com voz e violão e convidados sempre animados.

E junto desses comércios, a memória afetiva de moradores antigos: Dona Celestina, Dona Patrocínia, Dona Maria Gomes, Seu Onofre, seu Filó, dona Gorgotina,  Dona Josefina (a avó), Seu Itamar (meu avô).


🌳 Parques e memória da cidade

A proximidade com os parques também marcou a infância:

  • O Parque Mutirama, clássico de Goiânia.

  • O Parque Botafogo, moderno, limpo e urbano nos anos 90/2000, com lagos, fontes e passarela sobre a marginal. Hoje, infelizmente, está abandonado — mas segue vivo na memória dos que viveram sua melhor fase.


✨ Conclusão

A Vila Montecelli não é apenas um bairro. É um tecido de memórias:

  • De fé e espiritualidade, com a Igreja e seus projetos sociais;

  • De dor e denúncia, com as lembranças do Adauto Botelho;

  • De vida comunitária, com seus bares, mercearias e lideranças;

  • De infância marcada por parques, festas, brincadeiras de rua e cinema popular.

É a história de um lugar onde poder público, Igreja e comunidade se cruzaram — mas, acima de tudo, é a história das pessoas que resistiram, criaram e viveram ali.







































Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A LENDA DOS ENCOLHEDORES DE CÉREBRO

Subvertendo o capitalismo (ou não)