DIÁRIO DE UM ANÔNIMO COMUM

 

Registrando os dias na vida de um brasileiro lutando por sua sobrevivência, não estou mais em busca de respostas, nem me preocupa mais as perguntas certas, só me interessa saber se as afirmações não são furadas pra me causar surpresas desnecessárias enquanto eu me guiar por elas, o mundo é um mar de informações assimétricas.

Registro do dia que fui contratado para trabalhar na BRF, Outubro/ 2015


       Eu sei que é tedioso ler sobre a vida de outrem, principalmente quando este não é ninguém em especial, a vida de um anônimo não nos desperta nenhum tipo de curiosidade, ainda mais um anônimo comum, um anônimo sem grandes feitos, sem grandes promessas, um perfeito e real cara normal. Mas ainda assim, eu lhes digo, escrever sobre um anônimo extremamente é comum ainda me é importante porque esse adulto, por mais inexpressivo que seja, por mais que seja ele um grão de areia no deserto do Saara, por mais que ele seja um fóton de luz no meio de um dia ensolarado, ele é importante pra mim, pro meu CPF, ele é importante pra mim porque sou eu mesmo. Vez ou outra eu me sento em frente a um computador pra registrar um pouco das minhas impressões do momento atual em que estou inserido, nessa louca vida onde temos contagem de dias, meses, anos e décadas, somos a fração de um ponto no espaço, nossa vida é um sopro literalmente, e registrar algumas coisas de algum modo perpetua, ou prolonga um pouco mais a nossa breve existência, afinal, o que é existir né?

     Eu gosto de falar em como está minha vida atual, como uma fotografia descrita do quadro atual, também gosto que relembrar alguns pontos que me fizeram chegar até aqui, realmente é um monólogo, um balanço pessoal pra entender, o que houve e o que pode haver daqui pra frente, nessa minha vida que não tem manual, vivendo na base da tentativa e erro, errando mais do que eu esperava, tendo azares sobre alguns detalhes, tendo sortes sobre outros cruciais, como estar ainda vivo e com saúde por exemplo. Mas é incrível como a gente não tem a tendência de analisar nossa existência do ponto de vista que poderíamos ser uma criança desnutrida do Zâmbia vivendo em plena guerra civil no país, ou um esquimó morando nas geleiras do polo norte, um menino perdido em Aleppo em meio às guerras da Síria... Não, a gente prefere reclamar que não nasceu em meio aos prédios e a vida nova-iorquina, não nascemos filho de piloto de avião que viaja pra todo canto e leva o filho as vezes, preferimos pensar do ponto de vista do que nos falta, do que aquilo que já temos. 

     Eu por exemplo, tenho muito a que agradecer a Deus, pela saúde, por ter todos meus membros do corpo inteiros, por ainda ter capacidade intelectual de cursar uma universidade, por ter conseguido viajar, conhecer o mar, namorado alguma vez na vida, tirado a habilitação de carro, viajado pra outro país, ter amigos que realmente gostam de mim... Enfim, a vida sempre tem dois lados de encará-la, como um abençoado ou como uma vítima de um mundo injusto, e essa última é muito sedutora, porque é muito fácil, é muito mais prático jogar a culpa dos nossos fracassos e dos nossos desejos não atendidos em coisas e pessoas externas ao nosso controle, e realmente pouquíssima coisa está em nosso controle, senão nada, porém ao mesmo tempo que somos influenciados pelo espaço, também o influenciamos, e para mim isso é uma verdade sólida.  

     Então, hoje é 21 de Fevereiro de 2021, um domingo de sol escondido entre nuvens, tem 18 dias que voltei para Pelotas - RS, depois de ficar 5 meses lá em Goiânia - GO, onde revi várias pessoas, fui a lugares, saí como amigos, conheci algumas pessoas novas e matei o 4º semestre da faculdade. Lá em Goiânia eu morei numa casa onde eu dividia com o Vitor Salgado e seu irmão Pedro, o Vítor foi um colega que entrou comigo no curso de economia da UFG em 2016, ele se formou e entrou para o mestrado diretão, o Deivid que morava com ele me cedeu o local pra ficar porque tinha voltado para São Paulo - SP, sua terra natal e por lá ficou, até conseguiu um mestrado também, mas enfim, conversando com o Vitor que fez o caminho exato que eu planejava para mim, desencanei de fazer mestrado com o encanto que eu tinha antes. 

     


Foto de 2016 da família da minha prima Naylinne e minha tia Keila


      Em 2020 tinha planejado deixar de trabalhar, viver de bolsa da universidade só com o básico (alimentação e moradia) para impulsionar minha carreira acadêmica, porém não foi como eu imaginava, a carreira acadêmica é inglória, é uma área que demora te recompensar, com certeza vale a pena pra quem gosta, e eu gosto, me imagino nela, porém o custo de embarcar nesse propósito eu não consigo pagar, porque como sabemos, não existe almoço grátis, e o retorno de um esforço acadêmico tem um prazo, que eu não direi que e longo, porém é um custo de oportunidade que não quero mais pagar. Resolvi que já tenho pago um alto custo já na graduação, então o mestrado tiraria de mim o que nem tenho, visto que o retorno não é como o esperado. O Vítor mesmo saiu do mestrado e resolveu se dedicar a estudar pra concurso (e passou), arrumar um emprego, uma mulher e ter uma vida sossegada, a real é que isso é tudo que eu quero também. 

"Perherps" a serem resolvidos

      Desde que cheguei em Pelotas, procuro uma maneira de deixar o emprego de call center na Atento, que entrei em Outubro lá em Goiânia, e arrumar outro, que de preferência me pague um melhor salário e não tenha que trabalhar finais de semana e feriados. O trabalho ao qual estou contratado é muito bom para quem não faz outra coisa além de trabalhar, no caso, home office de 6:20h por dia com uma remuneração de um salário não parece ser tão ruim, a empresa forneceu o computador de mesa e eu ainda aproveito para o usar em minhas coisas pessoais. Quando vim para Pelotas tive que deixar meu antigo notebook lá na casa da minha tia Eneida, porque ele simplesmente deixou de funcionar. A parte ruim é que logo que deixar de trabalhar, também deixarei de ter computador, pois terei que devolver e o pior é que as aulas desse ano de 2021 também serão no modelo EaD. 

     Ano passado eu me dei bem em relação ao adiantamento do meu curso na faculdade de economia, consegui ser aprovado em todas as cadeiras que peguei. Esse ano pretendo pelo menos eliminar as duas ou três do quinto semestre mais duas do sexto, ficando assim ainda mais perto da conclusão... Enfim, deixei de sonhar com o mestrado como o ápice da minha vida, também deixei de enxergar isso como algo que define se alguém tem mais valor ou não na sociedade, na verdade é incrível como as coisas mudam o seu valor durante os dias que se passam, aquilo que tinha um tremendo valor para mim em 2010 já não tem o mesmo valor, não vejo da mesma maneira que eu via agora em 2021. 

Meu momento Atual

      Estou lutando para terminar o livro que comecei, praticar regularmente os exercícios que me ajudarão a ter uma vida mais saudável, ainda não perdi nenhum quilo que eu gostaria, é uma batalha que eu praticamente desisti de vencer, mas ainda sinto que me seria muito favorável ter uma aparência esbelta, atlética e saudável. O Mundo de hoje é dominado pela estética e isso não passará tão rápido, não na minha geração. Estou começando um emprego novo, totalmente novo, um desafio ainda na verdade, deixar de trabalhar de home office e trabalhar como instalador de painéis fotovoltaicos, é um trabalho do qual eu sei muito pouco a respeito e a parte boa é que terei uma oportunidade de aprendizado de um ofício além da teoria, algo palpável que poderei inclusive incrementar no meu currículo futuro. Aprender sobre instalação de painéis solares só tem a me agregar e estou muito feliz de estar tendo essa oportunidade.

      Vi a oportunidade em um anuncio de vaga pelo Facebook, daí me candidatei por lá mesmo e o Alex, dono da empresa, me ligou e me chamou pra uma entrevista para a sexta-feira de manhã dia 19 de fevereiro, fui bem cedo lá, na verdade marcamos às 09:30 lá na Avenida Adolfo Fetter, indo pro Laranjal, fui de bike, chegando lá o Alex estava entrevistando ou conversando com um senhor e falou que logo me atendia, tava um sol da peste, mas aguardei lá fora, percebi que a empresa é muita bonita apesar de simples, havia painéis solares em todo pátio, o estacionamento tinha uma parte coberto só de painéis solares onde haviam alguns carros em baixo, um cara em uma motoneta estacionou ali pouco após eu chegar, pensei que seria mais um concorrente para a vaga, porém era apenas um cara que estacionou ali e foi na padaria que fica do outro lado da rua. Na entrevista eu me apresentei, falei quem eu sou, como cheguei até ali, e o que estou fazendo atualmente, disse que estou disposto a aprender e o Alex disse que gostou de mim, disse que a empresa tem 10 anos, que a normatização para energia solar é desde 2012, então para esse mercado relativamente novo a empresa até que está bem. Ele ficou de me telefonar de tarde e me avisar se eu seria chamado ou não, acabou que ele me ligou e me pediu pra trabalhar no dia seguinte, sábado, num projeto em andamento lá em Rio Grande e eu aceitei claro, de pronto. 

No sábado cedo acordei, comprei umas coisas para fazer café da manhã e enquanto comia, aguardava algum contato de alguém que viria na minha casa me buscar pra ir trabalhar, afinal, o serviço era em Rio Grande e eu não recebi nenhum sinal de vida na noite anterior, fiquei aguardando e pra variar com a tela do meu telefone estragada, só me restou ficar atento pelo computador onde eu estava conectado pelo Whatsapp Web. Mas deu certo, o Israel chegou na porta do condomínio com o Henrique, os Israel é o instalador profissional e o Henrique é o engenheiro elétrico

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SE MARAVILHAR COM AS COISAS DA VIDA

Dilemas econômicos: Teorema de Arrow

SQL em escala com o Apache Spark SQL e DataFrames - conceitos, arquitetura e exemplos