E mais uma vez a gente se mete em traçar metas

 Então eu, na metade do tempo da idade de 27 anos cá estou, a escrever sobre mim mesmo, que é um dos poucos momentos em que sinto a liberdade e a certeza de estar fazendo o que eu gostaria e o que eu sei que estou fazendo. O mundo é muito louco, muda uma coisinha aqui, já derruba um castelo de areia, ou de cartas ali, construído muitas vezes contando com o ovo no cu da galinha. Não é de hoje que as coisas que planejo são simplesmente jogadas na lata do lixo, pela entidade responsável pelo meu destino, seja ela qual for, detentora do tempo e do espaço, de como a aleatoriedade e a lei de Murphy funcionam comigo. 

Duas amigas querias Suzan e Ju


Hoje eu já amanheci, com a ciência de que preciso trabalhar muuuuito para pagar várias contas e ficar com o mínimo preparado para a viagem que marquei para Goiás no próximo mês, às 17 horas, dia onze de Agosto estarei zarpando para a minha cidade natal, do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre, passando por São Paulo e chegando a Goiânia às 23:00 horas, a quente e sertaneja Goiânia, terra que me viu nascer e sofrer, que é o resumo rasteiro do que é a vida. 

Desde que saí da empresa de energia solar, resolvi me meter na vida de motorista de aplicativo e descobri que a vida dos mesmos não é nenhum mar de rosas, pelo contrário, é um tal de entra e sai em cada bimboca, lida com gente de todas estirpes, má educadas, arrogantes, algumas até legais, várias desconfiadas, gente querendo tirar proveito de todo jeito e o principal, lidar com custos altíssimos dada a situação inflacionária do país, combustível e valor do aluguel do carro incompatível com os ganhos pelo trabalho duro. Já me peguei caindo de sono e dirigindo, pior do que se estivesse bêbado, umas vezes eu quase virei o carro, já caí na valeta, comum em alguns lugares aqui de Pelotas, já arranhei o carro, já bateram em mim, eu nunca bati em ninguém, já tomei esporro de mulher em carro de granfina dizendo que eu mostrei o dedo, sendo que eu nunca vi a cidadã na vida. Já fiquei com o carro empenhado no meio do nada sem gasolina e sem bateria no telefone. Levei travesti, policial, médico, novinhas pra bar, os manos do fute, famílias inteiras, esposa que bringou com marido, gringos... altas aventuras em menos de um mês como motorista. Mas posso dizer, ninguém que trabalha com isso gostaria de ficar nessa vida por muito tempo, é um trabalho dispendioso com baixissima remuneração. 

Foto diária para começar a trabalhar na 99

Decidi conversando com minha amiga de longa data, Yonara, a ir pra Goiânia tentar alguma oportunidade de emprego que tenha por lá, como é uma cidade maior, e onde tenho mais conhecidos, pode ser que lá eu consiga me organizar. Posso até continuar fazendo aplicativo por lá, mesmo que seja difícil encontrar um cara que aluga o carro que seja tão gente boa quanto o senhor Paulo Renato que me aluga aqui em Pelotas. Minha idéia é fica lá no local aonde ela vai me deixar ficar por uns dias e já correr atrás de algo com o que eu possa me manter, a casa da mãe dela está vazia e desocupada, poderei fixar lá uns dias até me organizar. Vai ser bom porque também estarei caminhando pro final do curso na faculdade, daí será uma boa procurar algo mais voltado pra área relacionada a economia. 

A meta agora é, procurar um trabalho em Goiânia em que eu possa conciliar com as aulas da faculdade, levar as matérias na manha, de modo que eu conclua todas sem nenhum risco de reprovar. Também trabalhar o tema da minha monografia, pra adiantar ao máximo pro ano que vem. A outra meta é da saúde, perder peso, praticar exercícios, me alimentar minimamente bem, e dormir em horário correto para ter uma produtividade boa. Ao chegar em Goiânia, torço pra arrumar um emprego digno com um salário justo, coisa que não tenho encontrado em Pelotas. Preciso o quanto antes me livrar das dívidas que fiz pagando todos os amigos e pessoas que me ajudaram. 

Por fim, não era assim que eu me imaginava a uns anos atrás, quando estivesse próximo de terminar o curso, me imaginava em cenários totalmente otimistas, porém a vida as vezes vai tomando contornos de muito sacrifícios inesperados e entraves repentinos, pessoas que nos deixam ou ficam pelo caminho, mas a jornada continua, a busca por uma vida melhor segue mesmo aos trancos e barrancos. 

Estou prestes a deixar Pelotas, e tudo que vou deixar é uma cama, um sofá e uma luminária, uma lousa branca, além de umas contas a pagar com a moradia de estudante que fiquei nesse um mês. 

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