É VIÁVEL A MOEDA ÚNICA DO MERCOSUL?
Logo no início do novo governo uma proposta de moeda comum para o grupo de países do Mercosul ganhou destaque no noticiário. Na primeira semana de Janeiro o embaixador da Argentina no Brasil sugeriu, após conversas com o ministro da Fazenda Fernando Haddad, o trabalho futuro conjunto entre os dois países no sentido de se pensar em uma moeda comum. Mas isso não é algo que surgiu agora.
Destaca-se que, em 2022, o atual secretário executivo da fazenda, Gabriel Galípolo, escreveu um artigo com o próprio Haddad sugerindo uma moeda Sul-Americana. Essa ideia de uma possível "moeda única no Mercosul" é um bom ponto para discussão de teoria econômica. Mas é imprescindível chamar a atenção do leitor para as condições necessárias para que isso seja factível. Um bom exemplo é olhar para o experimento da criação e implementação do euro.
Para adentrar no tema é natural usar como ponto de partida os estudos sobre as áreas monetárias ótimas de Robert Mundell (trabalho publicado nos anos 1960 e prêmio Nobel de economia em 1999). Segundo esses, as áreas geográficas que fariam sentido para a mesma moeda, seriam aquelas com as seguintes características: 1- Grande fluxo comercial, 2- Muita mobilidade de mão de obra, 3- Alta integração financeira.
Ora, o Mercosul representa cerca de 6% da corrente de comércio do Brasil, o que invalida a primeira. A mobilidade de mão de obra é baixa até mesmo entre os Estados brasileiros - Apenas 20% das pessoas migram para outros Estados -, sendo baixíssimo o número de migrantes no mercado de trabalho entre os países na América Latina. Por fim, a integração financeira é inexistente, basta observar os diferenciais de juros e diferentes regulações bancárias entre os países da região. Logo, nenhuma das três características está presente para iniciarmos essa conversa. Questiona-se de saída qual seria a motivação.
Creio que se voltarmos os olhos para o grande experimento da zona do Euro, muito se aprendeu sobre o tema. Com uma moeda comum teremos apenas um Banco Central e, portanto, uma única política monetária para todos os membros. Isto requer o que chamamos de simetria de choques econômicos, uma vez que se há desalinhamento de política fiscal a política monetária terá impactos diferentes entre os membros.
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