O que é o Método Científico?
Hipóteses, Leis e Teorias - O Núcleo das Explicações Científicas
Uma das principais características da explicações científicas é que elas se valem de leis para explicar e prever acontecimentos. Mas o cientista não busca apenas leis. Ele procura construir também sistemas de leis, conceitos e hipóteses, de modo a formar uma teoria científica. É através das teorias que ele procura descobrir o mecanismo oculto dos fenômenos.
1. Respostas aos Porquês - As Explicações Científicas
Em ciência procuramos descobrir leis e teorias científicas que sirvam como premissas de argumentos lógicos, a partir dos quais possamos inferir a ocorrência de determinados fenômenos.
A Estrutura Dedutiva das Explicações Científicas: Para se chegar a uma explicação dedutiva a primeira sentença é um enunciado geral ou uma generalização. A segunda relata um fato que antecedeu e provocou o fato a ser explicado e que é chamado de causa, circunstância inicial ou condição inicial. É importante também compreender que sem as leis gerais o argumento não seria válido: qualquer explicação científica pressupõe leis que ligam a causa ao efeito, mesmo que, na prática, não sejam mencionadas. Outras vezes, quando perguntamos pelo porquê dos fenômenos, queremos conhecer as leis gerais e não as condições iniciais. As leis gerais podem ser explicadas por outras leis ou por um sistema de leis - as teorias -, que tentam captar uma realidade em um nível ainda mais profundo e geral.
Explicando o visível pelo invisível: É curioso como muitas vezes as explicações científicas, em vez de explicar algo desconhecido em função de algo conhecido ou familiar, fazem justamente o oposto. [...] Mas, mesmo o senso comum se vale de conceitos como pensamento ou alegria que não podem ser observados diretamente e sim inferidos a partir de certas manifestações ou comportamentos (sorrisos que indicam alegria, por exemplo). Portanto, não é somente a ciência que explica o conhecido pelo desconhecido ou o visível pelo invisível. [...] Dito em outras palavras: as leis científicas são condicionais, isto é, fornecem as condições em que certos fenômenos ocorrerão, permitindo prever que, se ocorrerem certos fatos - as condições iniciais ou causa - haverá determinado efeito. Em outras palavras: as leis são enunciados gerais que estabelecem uma conexão entre dois grupos de fenômenos, afirmando que sempre que um grupo de fenômenos ocorrer, será acompanhado por outro. As leis científicas conferem às explicações científicas um notável poder de previsão, pois quando explicamos um fenômeno estamos também prevendo em que condições ele ocorrerá. Esta capacidade de previsão permite que as leis científicas sejam submetidas a testes experimentais, arriscando-se a serem refutadas. Não é isso que ocorre com profecias do tipo "haverá uma grande catástrofe" (em vez de "haverá uma catástrofe se as seguintes condições forem preenchidas"), que afirmam que algo ocorrerá "aconteça o que acontecer", sem se referir às condições necessárias ou suficientes para tal ocorrência. É por não haver esta referência que se deve usar o termo "profecia", em vez de "previsão".
O universo como um relógio: é possível um determinismo completo e absoluto?
O Sucesso das leis de Newton em explicar e prever fenômenos que ocorrem no céu e na Terra levou alguns cientistas e filósofos, como o matemático e físico Pierre Simon Laplace (1749 - 1827), a suporem que tudo que acontecia no universo poderia ser explicado em função da posição, da velocidade e da massa das partículas materiais, para Laplace:
"Uma inteligência que conhecesse todas as forças que animam a natureza e os estudos, determinado instante, dos objetos que a compõe (...) seria capaz de englobar em uma única fórmula os movimentos dos grandes corpos do universo e dos mais leves átomos; para ela nada seria incerto e o futuro, como o passado, estariam presentes aos seus olhos".
Laplace propõe então que tudo ocorra que ocorra no universo possa, em princípio ser explicado por leis que relacionam causa e efeito de uma maneira completamente determinada, o que tornaria possível prever qualquer acontecimento futuro. O Universo seria algo como um imenso relógio, com os fenômenos sucedendo de forma regular e previsível, como ocorre com os movimentos dos planetas ao redor do Sol. Esta teoria, conhecida como determinismo mecanicista ou mecanicismo, parecia confirmada pelo sucesso das explicações através de leis causais da mecânica que relacionavam causa e efeito de maneira necessária.
Entretanto, a evolução da física não ocorreu como Laplace previa. Em primeiro lugar, porque as leis e Newton não foram suficientes para explicar todos os fenômenos físicos conhecidos. O electromagnetismo ou a coesão das partículas do núcleo do átomo, por exemplo, valem-se de outros tipos de forças, diferentes das forças newtonianas. As leis da mecânica são, assim, insuficientes para explicar todos os fenômenos físicos e, consequentemente, o mecanismo teve de ser abandonado.
Há ainda um outro problema relacionado com a ideia de causa. Para empiristas e positivistas, dizer que um fenômeno é causado por outro é dizer que ele foi observado frequentemente, acompanhado por outro. Entretanto, como diz Bunge, embora maçãs vermelhas sejam doces, não podemos dizer que a cor vermelha é a causa da maçã ser doce, como não podemos dizer também que o dia seja a causa da noite, apesar de um acompanhar o outro.
Mesmo aquilo que podemos chamar de "observação direta" (fornecida por nossos órgãos dos sentidos) envolve sempre uma interpretação hipotética dos fatos, feita por nosso sistema neurossensorial a partir de ideias, crenças etc. Através da construção de teorias científicas podemos tentar descobrir, sempre hipoteticamente, algo semelhante a uma conexão necessária. Entretanto resta ainda outro problema relacionado com a ideia de causa: será que todos os fenômenos pode ser explicados por leis causais? Há outro tipo de explicação que parece ser diferente das explicações fornecidas pelas leis causais: são as explicações probabilísticas ou estatísticas, hoje largamente utilizadas não apenas na físicas, mas também em muitas outras ciências.
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