FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL - Deslocamento do Centro Dinâmico, um debate sobre suas causas
A Tese de "Deslocamento do Centro Dinâmico" de Celso Furtado na Formação Econômica do Brasil e suas Críticas
Introdução
Na sua obra seminal "Formação Econômica do Brasil" publicada em 1959, Celso Furtado apresentou uma análise profunda da economia brasileira, defendendo a tese do "deslocamento do centro dinâmico". Segundo Furtado, a crise internacional combinada com a política econômica do Governo Federal na década de 1930 foi o fator-chave para impulsionar a superação do modelo agroexportador vigente na Primeira República. Nesta resposta, exploraremos os argumentos usados por Furtado para sustentar essa tese, seguido por uma análise crítica dos argumentos apresentados por um autor que contestou, mesmo que parcialmente, a abordagem de Furtado. Por fim, faremos um cotejo entre ambos, com a intenção de avaliar quem possui uma posição mais embasada.
A Tese do "Deslocamento do Centro Dinâmico" de Celso Furtado
Celso Furtado argumentou que, no início do século XX, o Brasil tinha uma economia baseada principalmente na exportação de produtos agrícolas, como café e borracha, para atender a demanda internacional. Esse modelo de economia agroexportadora, contudo, foi abalado por dois eventos cruciais: a crise econômica mundial de 1929 e a consequente reorientação da política econômica adotada pelo Governo Federal a partir da década de 1930.
A crise internacional de 1929 afetou drasticamente o comércio global e as economias dependentes de exportação de commodities, incluindo o Brasil. A demanda externa por produtos agrícolas brasileiros despencou, resultando em uma forte redução das receitas de exportação. Esse choque externo evidenciou a vulnerabilidade do modelo agroexportador, revelando a necessidade de diversificação da economia nacional.
Em resposta à crise, o governo brasileiro sob Getúlio Vargas implementou uma série de políticas econômicas intervencionistas, conhecidas como Estado Novo, que visavam a industrialização e a diversificação da economia. Furtado argumenta que essas medidas tiveram um papel crucial no "deslocamento do centro dinâmico". O Estado Novo estabeleceu mecanismos de proteção à indústria nacional, incentivou o desenvolvimento de setores manufatureiros e estimulou a formação de um mercado interno, promovendo uma mudança significativa na estrutura produtiva do país.
O investimento em infraestrutura, como a construção de rodovias e ferrovias, permitiu a integração de regiões antes isoladas, facilitando o fluxo de mercadorias e estimulando o crescimento econômico regional. A industrialização e urbanização resultantes criaram novas oportunidades de emprego, atraindo migrantes das áreas rurais para as cidades.
Em síntese, Furtado argumentou que a crise internacional e a subsequente política econômica do Estado Novo alteraram a dinâmica da economia brasileira, impulsionando-a para fora do modelo agroexportador tradicional.
Críticas à Tese de Furtado
Apesar de sua importância e influência na compreensão da economia brasileira, a tese de Furtado também enfrentou críticas ao longo do tempo. Um dos autores que contestaram, em parte, a abordagem de Furtado foi Roberto Simonsen.
Simonsen, um importante empresário e intelectual brasileiro, criticou a ideia de que a crise de 1929 foi o único fator responsável pela mudança na economia brasileira. Ele argumentou que Furtado negligenciou outras forças internas que já estavam em movimento antes mesmo da crise internacional.
Segundo Simonsen, o processo de industrialização no Brasil já estava em curso na década de 1920, com a criação de algumas indústrias e o surgimento de um mercado consumidor em crescimento. Ele enfatizou que setores como a indústria têxtil e de alimentos apresentaram crescimento significativo antes da Grande Depressão. Para Simonsen, essas mudanças internas, aliadas à crise de 1929, foram as principais impulsionadoras do deslocamento da dinâmica econômica no Brasil.
Além disso, Simonsen também criticou o modelo de industrialização proposto pelo Estado Novo. Ele argumentava que o governo Vargas adotou um modelo de substituição de importações, que dependia excessivamente de proteção tarifária e subsídios estatais. Essa abordagem, segundo Simonsen, resultou em ineficiências e uma indústria nacional pouco competitiva.
Cotejo e Conclusão
Ao comparar as posições de Celso Furtado e Roberto Simonsen, podemos notar que ambos apresentaram argumentos plausíveis. Furtado destacou o papel crucial da crise internacional de 1929 e das políticas econômicas do Estado Novo na transformação da economia brasileira. Ele ressaltou a importância de direcionar o investimento para a industrialização e de estimular a formação de um mercado interno como resposta aos desafios enfrentados pelo país naquele momento.
Por outro lado, Simonsen trouxe à tona a relevância dos fatores internos que já estavam impulsionando a industrialização do Brasil antes mesmo da crise internacional. Ele questionou a eficácia do modelo de substituição de importações adotado pelo Estado Novo, alertando para as possíveis consequências negativas dessa abordagem.
Ambos os autores contribuíram significativamente para o debate sobre a formação econômica do Brasil, trazendo perspectivas importantes para a compreensão desse processo complexo. A tese de Furtado enfatizou a influência do contexto internacional e das políticas governamentais na transformação da economia brasileira, enquanto as críticas de Simonsen destacaram a necessidade de considerar também as dinâmicas internas e a eficácia das estratégias adotadas.
Em última análise, é relevante reconhecer que a formação econômica do Brasil foi resultado de uma interação complexa entre fatores internos e externos, envolvendo forças econômicas, políticas e sociais. Embora a crise internacional e a política econômica do Estado Novo tenham desempenhado papéis significativos no deslocamento da dinâmica econômica do país, outras variáveis internas também contribuíram para esse processo.
Portanto, uma abordagem abrangente e multifacetada que considere todos esses fatores é essencial para uma compreensão mais completa da evolução econômica do Brasil. A importância da contribuição de ambos os autores permanece, pois ambos trouxeram perspectivas valiosas e contribuíram para a construção do conhecimento sobre a formação econômica do país. A riqueza dessa controvérsia reside na oportunidade de examinar o passado com uma visão mais crítica e informada, para melhor compreender o presente e moldar o futuro.
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