O BOM ECONOMISTA
Um bom economista na visão de Keynes
John Maynard Keynes escreveu que um bom economista deve combinar os talentos do “matemático, historiador, estadista e filósofo (na medida certa). Deve entender os aspectos simbólicos e falar com palavras correntes. Deve ser capaz de integrar o particular quando se refere ao geral e tocar o abstrato e o concreto com o mesmo voo do pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado e tendo em vista o futuro. Nenhuma parte da natureza do homem deve ficar fora de sua análise. Deve ser simultaneamente desinteressado e pragmático: estar fora da realidade e ser incorruptível como um artista, estando embora, noutras ocasiões, tão perto da terra como um político”.
John Maynard Keynes, um dos mais influentes economistas do século XX, articulou uma visão abrangente e interdisciplinar do que constitui o papel do economista. Em um de seus textos, ele descreveu o economista ideal como alguém que combina uma variedade de habilidades e perspectivas, transcendendo a simples análise técnica para incorporar uma compreensão profunda e multifacetada da sociedade e da economia. Vamos explorar mais detalhadamente o que Keynes quis dizer com essa descrição.
A Interdisciplinaridade do Economista
Matemático
– Habilidade Analítica: Keynes destacou a importância do economista ser um matemático, valorizando a precisão analítica e a capacidade de modelar situações econômicas complexas. O uso de matemática permite a criação de modelos que podem prever comportamentos e resultados econômicos.
Historiador
– Contexto Histórico: Ser um historiador implica entender como o passado influencia o presente e o futuro. Keynes acreditava que o conhecimento histórico é essencial para compreender as tendências econômicas, os ciclos e as evoluções que moldam a economia atual.
Estadista
– Visão Política e Social: O papel do estadista é crucial para tomar decisões que afetam a sociedade em larga escala. Keynes enfatizava a necessidade de os economistas terem uma perspectiva política e social, compreendendo como as políticas econômicas impactam a vida das pessoas e as estruturas sociais.
Filósofo
– Reflexão Crítica e Ética: A filosofia traz a capacidade de reflexão crítica e a consideração dos princípios éticos. Keynes via o economista como alguém que deveria ponderar as implicações morais e filosóficas das políticas econômicas, buscando um equilíbrio justo e equitativo.
A Habilidade de Comunicar
– Aspectos Simbólicos e Linguagem Corrente: Keynes apontou que o economista deve entender tanto os aspectos simbólicos (teóricos) quanto ser capaz de comunicar suas ideias de forma clara e acessível. A habilidade de traduzir conceitos complexos em termos compreensíveis é crucial para a eficácia das políticas econômicas.
Integração do Particular e do Geral
– Conexão entre Abstrato e Concreto: O economista deve ser capaz de integrar detalhes específicos (particulares) em uma visão geral (abstrata) da economia. Isso envolve uma capacidade de ligar teorias abstratas a casos concretos, ajudando a aplicar princípios econômicos em situações reais.
Perspectiva Temporal
– Estudo do Presente com Olhos no Passado e no Futuro: Keynes enfatizou a importância de analisar o presente com uma compreensão profunda do passado e com uma visão de longo prazo para o futuro. Isso ajuda a antecipar tendências e preparar respostas adequadas às mudanças econômicas.
Compreensão da Natureza Humana
– Análise Holística: Nenhuma parte da natureza humana deve ficar fora da análise econômica. Keynes sugeriu que os economistas devem ter uma compreensão holística do comportamento humano, incorporando aspectos psicológicos, sociais e culturais em suas análises.
Desinteresse e Pragmatismo
– Equilíbrio entre Teoria e Prática: O economista deve ser simultaneamente desinteressado e pragmático, equilibrando uma abordagem teórica pura com a aplicação prática. Deve manter a integridade e objetividade de um artista enquanto lida com as realidades práticas e imediatas de um político.
Conclusão
Keynes pintou um retrato do economista como um indivíduo multifacetado, cuja eficácia depende de uma combinação única de habilidades e perspectivas. Este economista ideal deve ser capaz de navegar entre o abstrato e o concreto, o passado e o futuro, mantendo um equilíbrio entre a teoria pura e a prática pragmática. A visão de Keynes transcende a simples análise econômica, exigindo uma compreensão profunda e abrangente da sociedade e da natureza humana, tornando o economista não apenas um técnico, mas um verdadeiro intelectual e visionário.
John Maynard Keynes via o economista ideal como um verdadeiro artista incorruptível porque acreditava que a integridade e a capacidade de enxergar além dos interesses pessoais são essenciais para a objetividade e eficácia no campo econômico. Ele via o artista como uma figura que, apesar de viver em contato íntimo com a realidade, mantém uma visão pura e inalterada, fiel aos seus princípios e à verdade. Essa visão de incorruptibilidade está enraizada na integridade intelectual e na independência de pensamento, qualidades que ele considerava cruciais para a prática da economia.
Keynes e o Grupo de Bloomsbury
Keynes tinha uma profunda relação com os artistas e intelectuais do Grupo de Bloomsbury, um coletivo de escritores, artistas e pensadores britânicos que incluía figuras como Virginia Woolf, Vanessa Bell, Duncan Grant, E.M. Forster, Lytton Strachey e Clive Bell. O grupo era conhecido por suas ideias progressistas, tanto em termos sociais quanto culturais, e seu enfoque em explorar novas formas de expressão artística e intelectual.
Conexão Pessoal e Intelectual
– **Virginia Woolf**: Woolf, uma das principais figuras do grupo, era uma escritora inovadora e feminista. Ela e Keynes compartilhavam uma amizade profunda e um respeito mútuo. Woolf admirava a inteligência e a visão de Keynes, enquanto ele valorizava a contribuição literária e as perspectivas sociais de Woolf.
– **Vanessa Bell e Duncan Grant**: Vanessa Bell, irmã de Virginia Woolf, era uma pintora influente, e Duncan Grant, seu parceiro, também era um artista renomado. Keynes tinha um relacionamento próximo com ambos e frequentemente passava tempo na casa de campo de Bell e Grant, Charleston Farmhouse, um centro vibrante de atividade artística e intelectual.
– **E.M. Forster**: Forster, autor de obras como “Howards End” e “A Passage to India”, também era um membro proeminente do grupo. Forster e Keynes compartilhavam discussões sobre literatura, política e economia, enriquecendo mutuamente suas perspectivas.
– **Lytton Strachey**: Strachey, um biógrafo e crítico, era conhecido por seu estilo irreverente e incisivo. Sua abordagem crítica influenciou Keynes, especialmente em sua capacidade de olhar para a economia com um olho crítico e desafiar as convenções estabelecidas.
Influência do Grupo de Bloomsbury em Keynes
Estética e Economia
A convivência de Keynes com artistas influenciou profundamente sua visão de que a economia não é apenas uma ciência quantitativa, mas também uma arte que exige intuição, criatividade e sensibilidade estética. Ele via a beleza e a arte como aspectos essenciais da vida, uma perspectiva que informava sua abordagem econômica e sua crença na necessidade de um equilíbrio entre eficiência econômica e bem-estar social.
Pensamento Crítico e Independente
O ambiente intelectual de Bloomsbury, caracterizado pelo pensamento crítico e pela independência, moldou a maneira como Keynes abordava questões econômicas. Ele se sentia encorajado a desafiar as ortodoxias e a buscar novas soluções para problemas econômicos, refletindo a atitude irreverente e inovadora do grupo.
Vida Pessoal e Profissional
Keynes não apenas interagia intelectualmente com o grupo, mas também se envolveu romanticamente com Duncan Grant antes de seu casamento com a bailarina russa Lydia Lopokova. Sua vida pessoal era interligada com a comunidade de Bloomsbury, e suas experiências com os membros do grupo influenciaram sua visão sobre a importância das relações humanas e sociais na economia.
Conclusão
John Maynard Keynes considerava o economista ideal como um verdadeiro artista incorruptível porque acreditava na necessidade de manter a integridade intelectual e a independência de pensamento, qualidades que ele via refletidas em seus amigos artistas do Grupo de Bloomsbury. A convivência com figuras como Virginia Woolf, Vanessa Bell, Duncan Grant, E.M. Forster e Lytton Strachey influenciou profundamente sua abordagem à economia, integrando aspectos estéticos e humanísticos ao rigor analítico, e destacando a importância de uma visão holística e crítica do mundo econômico.
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