Enquanto o Tempo Me Lê

 16 de julho de 2025

A segunda metade do ano já começou — e com ela, a constatação inevitável de que entrei, sem pedir licença, na vida adulta. Tenho trinta e um anos. Sou um homem dos chamados “30+”. E o mais curioso? Já me chamam de “senhor”. Às vezes, por pessoas que nem parecem tão mais novas assim. Confesso que sinto um misto de orgulho e estranheza.

Na minha cabeça, ainda sou aquele rapaz meio cru, que se perde em pensamentos longos e sonha com o que poderia ser. Mas a verdade é que boa parte das novidades da vida já passou.
Hoje, me percebo mais calejado — especialmente no trato com os outros.
Conviver, interpretar ambientes, entender pessoas... Talvez esse seja o meu "superpoder": um desconfiômetro aguçado, que me lembra constantemente que ninguém virá me resgatar — e, ao contrário, muitos esperam algo de mim.

Sou de uma geração única.
Filho da década de 90, cresci numa ponte entre eras. Na infância, era quase a idade da pedra: brincadeiras na rua, ficha no orelhão, enciclopédia para trabalhos de escola. Mas bastou piscar que tudo virou tela. A internet chegou como um furacão — e eu vi o mundo dos meus pais, que demorou décadas pra mudar, se transformar em questão de meses diante dos meus olhos.

Tive fases de fé inabalável em teorias da conspiração, vivi modas relâmpago (as roupas coloridas, os All Star, os cortes de cabelo indecifráveis)... e vi tudo isso passar como quem assiste a uma estação de trem — rápido demais pra acompanhar.

Hoje estou aqui, em outro estado, cursando uma pós-graduação. Me sinto atrasado. Como se ainda não tivesse conquistado nem 10% do que sonhei quando era adolescente.
Mas ganhei outras coisas.
Desilusões — e elas, por mais dolorosas, foram professoras implacáveis. Especialmente no amor.

Tive que desmontar o castelo mental onde vivia. Deixar o rapaz sonhador e encarar realidades brutas: a doença, o sofrimento e a morte da minha mãe e do meu pai. Vi amigos de infância se afastarem, vi gente que amei partir. Vi momentos virarem memória… e depois, nem isso.

Mas sigo.
Já passei da idade que meu pai tinha quando se foi. Logo, passo da idade da minha mãe também.
E embora eu ainda me veja como alguém tentando, já fiz algumas coisas que me orgulho:
– Me formei numa universidade federal, em outro estado.
– Entrei no mestrado.
– Tirei a carteira de motorista.
– Comprei meu primeiro carro.
– Sempre vivi do fruto do meu trabalho.
– Aprendi a honrar dívidas — mesmo nas fases difíceis.

Tive namoradas, mas nunca consegui manter um relacionamento por muito tempo. Talvez porque uma pandemia tenha atravessado o meio do caminho.
Hoje, às vezes, me sinto um homem solitário. Tenho bons amigos, sim — mas a maioria já está na fase dos relacionamentos quase casados, filhos a caminho, casas divididas.
E eu? Nem passarinho pra dar água.

Ainda assim, tenho propósitos claros:
Terminar o mestrado.
Publicar um artigo.
Cuidar da saúde.
Me sentir bem comigo mesmo.
E fazer com que aqueles que me amam sintam orgulho de mim.

A primeira metade de 2025 me trouxe experiências profissionais marcantes: trabalhei numa multinacional, viajei, participei de reuniões, recebi treinamentos. Foram aprendizados reais.

Mas agora, com o ano pela metade, me sinto, em parte, em falta.
Não sei se estou no rumo certo.
A sensação, às vezes, é de estar à deriva.

E mesmo assim, carrego uma teimosia — uma espécie de fé obstinada — de que coisas boas ainda vão acontecer.



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