O começo da sanha conquistadora das igrejas evangélicas

Foto de adolescentes no retiro espiritual da Igreja Videira em 12/06/2011 - Chácara Peniel - GO

O ano era 2010, estava eu com meus 17 anos de idade, era um adolescente criativo, cheio de sonhos e ideias na cabeça, mais ainda quando alimentados por ideias provenientes de pregações na igreja que eu frequentava em Goiânia, a bela capital onde nasci. Naquela época, o bum das redes sociais ainda não havia acontecido, estávamos no pré-instante em que o Facebook teria seu auge. A rede social embora tenha sido criada em 2004, começou suas operações no Brasil em 2007 e em 2010 já estava superando o antigo Orkut e muito. Essas duas coisas ao mesmo tempo provocou no meio social em que eu vivia uma sensação de estar vivendo uma avalanche de conversões dentro da igreja, já que as pessoas estavam agora mais conectadas e compartilhando coisas em comum, eu não sabia que aquilo na verdade era a formação da famosa bolha social. 

Nesse contexto de maior repercussão das ações dentro daquela bolha social, a igreja a qual eu frequentava adotou um discurso mais contundente em relação ao crescimento e expansão da igreja, e esse discurso perpassava por vários segmentos que abrangiam a vida cotidiana de seus membros. A igreja evangélica em Goiânia teve suas raízes aprofundadas desde a década de 80 quando pregadores sinceros e apaixonados faziam discursos inflamados pelas ruas, esquinas e locais de grande movimentação na cidade, não era incomum ouvir um pregador gritando sozinho para a multidão que passava reto e alguns gatos pingados que paravam pra ouvir, nas praças, rodoviárias e terminais de ônibus da cidade. Histórias assim, de pregadores e evangelistas, pobres, muitas vezes andarilhos, muitos sem muita ou nenhuma formação educacional, eram contadas com muita empolgação pela minha avó para mim desde muito pequeno. 

Com a virada dos anos 90 para os anos 2000, foi notório em todo país o crescimento do movimento neopentecostal, ensejando inclusive estudos sobre o assunto. O início dos anos 2000 também foi o começo da igreja que eu frequentava em 2010, e de outras mais em Goiânia, que ficou conhecida como a cidade das grandes igrejas, pastores que tinham a mesma origem em formação eclesiástica, o movimento Goiânia para cristo foi uma bandeira do apóstolo Sinomar Fernandes, fundador da Igreja Luz Para os Povos, que por sua vez também se originou nas igrejas Cristã Evangélicas iniciadas por missionários europeus que foram pra Goiás. Após os anos 2000 de Goiânia surgiram igrejas como Sara Nossa Terra, Igreja Videira e Igreja Fonte da Vida, com a fórmula de pregações em rádios, televisão e jornais impressos, experimentaram grande crescimento, saltando em menos de 10 anos de centenas para milhares de membros, apesar de nacionalmente outras igrejas estarem tomando seu protagonismo, estou relatando a experiência local de onde eu morava. 

Líderes neopentecostais pedem intercessão por Bolsonaro: “A Igreja colocou ele lá”


Nesse período de 2010, cresceu-se dentre os temas das pregações, a conquista da cidade, do estado, do país e das nações pela igreja, uma fala mais incendiada que a outra era como música para os meus ouvidos ingênuos, eu me alimentava de pregações no culto pela manhã e pela noite de domingo, chegava em casa e ouvia mais ainda pela rádio, não cansava de ouvir dentre os preceitos bíblicos, vez ou outra a chamada para ser representante de Cristo, mal sabia eu que na verdade isso estava significando o crescimento institucional da igreja como organização religiosa, aumento de influência política e aumento de influência econômica sobre a região em que ela está inserida. Desde essa época era nos contato exemplos de igrejas na Coréia do Sul, cidades dos Estados Unidos que se tornaram na verdade um complexo econômico, com grande público consumidor cativo e com líderes tão poderosos que aconselhavam políticos e gestores públicos. 

A igreja que eu frequentava fazia conexões com igrejas de São Paulo, Minas Gerais e Peru, outros lugares onde o crescimento  da igreja ganhou proporções acima da média. Nesse contexto surgiram também as notícias de que havia dentro das escolas e universidades brasileiras uma espécie de apologia ao comunismo  e ao ateísmo, dentro dos cultos vez ou outra não era incomum as universidades serem  mencionadas como inimigas da fé, como antro do humanismo onde se rejeitava a noção de um Deus e se pregava a libertinagem moral. Eu mesmo, sem ter pisado ainda em uma universidade já recebia desde minha adolescência instruções de que ali seria um ambiente de guerra santa, onde eu como crente enfrentaria professores e alunos inimigos de Deus, escarnecedores e que não se cansariam até provarem que meu Deus não existe. 

Em 2010 explodiram também os megaeventos, onde o apelo era uma cruzada de fé para a conquista de uma geração, um discurso apelativo, onde cada jovem era chamado para ser um radical livre, alguém que faria o que for preciso para fazer todos em seu ambiente de convívio também um cristão fiel e santo como ele. Discursos de pastores de internet também influenciavam a mim e meus amigos adolescentes, pregadores americanos como David Wilkerson, Paul Washer e até mesmo brasileiros como Paulo Júnior

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SE MARAVILHAR COM AS COISAS DA VIDA

Dilemas econômicos: Teorema de Arrow

SQL em escala com o Apache Spark SQL e DataFrames - conceitos, arquitetura e exemplos