HÉLIO 3 - O PETRÓLEO DO SÉCULO XXI
https://jornal.usp.br/atualidades/combustivel-do-futuro-helio-3-e-dez-vezes-mais-comum-na-terra-do-que-se-imaginava/
Em um estudo publicado na revista Nature Geoscience, cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, descobriram evidências de que um recurso raro chamado hélio-3 é potencialmente dez vezes mais comum na Terra do que se imaginava.
Conforme explica Ricardo Galvão, especialista em Física de Plasmas e Fusão Nuclear Controlada e professor do Instituto de Física (IF) da USP, o hélio-3 é um isótopo do hélio, o que significa que ele contém o mesmo número de prótons que esse elemento comum, mas um número diferente de nêutrons.
Na pesquisa, os cientistas americanos usaram uma nova técnica para detectar de que maneira os níveis de hélio estão subindo no nosso planeta. O isótopo, de acordo com Galvão, foi surpreendentemente encontrado na Terra durante um estudo que pretendia mensurar a presença de outra “versão” do hélio, o hélio-4. “Eles começaram com hélio-4, fazendo uma comparação da concentração relativa dele com o nitrogênio. O nitrogênio é muito abundante na atmosfera. A partir de uma análise, eles notaram que existia mais hélio-4 na atmosfera do que estimativas anteriores”, afirma.
Com isso, os pesquisadores confirmaram que a concentração desse isótopo tem aumentado, já que a substância é liberada principalmente durante a queima e extração de combustíveis fósseis. O isótopo de hélio-4 é produzido pelo decaimento radioativo na crosta terrestre e se acumula nos mesmos reservatórios que os combustíveis fósseis, em especial os de gás natural.
No decorrer do estudo, contudo, os geocientistas notaram a presença do valioso hélio-3 que, de acordo com o trabalho, está também aumentando junto com o hélio-4 em nossa atmosfera, ainda que em níveis muito menores do que fora dela.
Mas como, ainda que hipoteticamente, poderíamos utilizar o hélio-3 como combustível nuclear aqui na Terra? O professor Galvão explica que, primeiro, precisamos diferenciar como obtemos energia de reações nucleares. Uma delas é a fusão nuclear, “que é a forma pela qual as estrelas obtêm energia”, esclarece ele.
Entretanto, o que fazemos na Terra, principalmente, é a fissão nuclear, ou seja, bombardeamos átomos com nêutrons para quebrar o seu núcleo e gerar energia. Para isso, utilizamos dois isótopos de hidrogênio, o deutério e o trítio. A reação entre eles gera os resíduos que chamamos de lixo nuclear. O hélio-3, se descoberto em abundância, tomaria o lugar do trítio e a reação, teoricamente, seria bem menos perigosa para o planeta.
“Tanto nos reatores a fissão quanto nos reatores a fusão atualmente utilizamos deutério e trítio. Um dos problemas é que a energia que sai gera nêutrons de alta energia; os nêutrons são partículas que, quando bombardeiam parte do reator, fazem com que esses elementos se tornem radioativos; elementos radioativos que precisam ser armazenados por muito tempo, centenas de anos”, elabora Galvão. “Já o hélio-3, quando reage com deutério, não produz nêutrons energéticos, a energia sai imediatamente em partículas carregadas, então, não haveria radiação dos elementos dos reatores”, finaliza.
Por isso, a descoberta recente é importante porque o hélio-3 pode servir como base de energia limpa para nossa civilização, ainda que detectado na Terra em quantidades pequenas. Atualmente, cientistas sabem que o hélio-3 é amplamente encontrado no espaço sideral, especialmente na Lua.
“O hélio-3 só é produzido através de colisões com partículas muito energéticas que vêm do espaço, depois de um tempo ele vai decaindo na Terra e é absorvido pelas camadas superiores. Mas ele existe abundantemente na Lua”, conclui o professor, confirmando que existem projetos futuros que consideram enviar foguetes ao satélite para trazer o elemento para o nosso planeta.
Com colaboração de Caio César Pereira
HÉLIO 3, O COMBUSTÍVEL DO FUTURO
Sendo um raro isótopo nuclear, o hélio-3 era hipoteticamente existente nos estudos de Mark Oliphant, na Universidade de Cambridge, em 1934. O gás é conhecido como um subproduto da manutenção de armas nucleares. O hélio-3 foi encontrado em amostras de rochas lunares trazidas pelos astronautas do Projeto Apollo, graças ao trabalho de Harrison Schmitt, que viajou à Lua na Apollo 17, o único geólogo a visitar o satélite.
A sociedade atual envida esforços para manter a demanda diária de energia, a qual calcula-se deverá ser multiplicada por oito até o ano 2050 quando a população mundial deverá estar próxima de 12 bilhões de habitantes. A resposta pode estar na Lua.
- "A energia da fusão do Hélio 3 pode ser a chave da exploração e colonização espacial futura." - Disse Gerald Kulcinski, Diretor do Fusion Technology Institute (FTI) da Universidade de Wisconsin em Madison. Os cientistas estimam que existem um milhão de toneladas de Hélio 3 na lua, energia suficiente para o mundo para milhares de anos.
Só para que possam quantificar, segundo o pesquisador e astronauta, hoje senador, Harrison Schmitt, o equivalente de uma carga simples de uma nave espacial, que é de aproximadamente 25 toneladas, poderia prover toda a energia que o Brasil requer durante cinco anos.
A coisa funciona mais ou menos assim: quando o vento solar, um rápido fluxo de partículas carregadas emitido pelo sol, chega à Lua, o Hélio 3 se deposita no solo e através de milhares de milhões de anos assim foi acumulando-se enquanto os bombardeios dos meteoritos dispersavam as partículas acima de vários metros da superfície lunar.
- "O Hélio 3 poderia ser uma nova "corrida do ouro" à lua. Seu valor seria hoje de $4 bilhões/tonelada se comparado ao petróleo". - Disse Kulcinski, um defensor e pioneiro neste campo, que visualiza à Lua convertendo-se em uma indústria da Terra.
Ainda que descoberto em 1939, já se sabia que existiam alguns poucos quilos de Hélio 3 na Terra, a maior parte hoje em dia advém como sub-produto da produção de armamento nuclear. Os astronautas da Apolo encontraram Hélio 3 na lua em 1969, mas a ligação entre o isótopo e os recursos lunares não se realizou senão até 1986.
- "Foi necessário 15 anos para que os geólogos lunares e os pioneiros da fusão se encontrassem". - Disse Schmitt, o último astronauta a pisar a Lua.
Lua
Para resolver as necessidades de energia a longo prazo, os pesquisadores sustentam que o Hélio 3 é uma melhor aposta do que os combustíveis nucleares de primeira geração como o Deutério e o Trítio (isótopos de hidrogênio), que estão sendo atualmente testados a grande escala em reatores termonucleares de câmaras circulares. Estes processos que geralmente utilizam fortes campos magnéticos para controlar o grande calor do gás carregado eletricamente ou o plasma que ocorre durante a fusão, tiveram um custo de bilhões e deram baixos resultados.
Assim como a usina Angra I, em seu início, que pouco produziu e muito custou, o Reator Experimental Termonuclear Internacional ou ITER por suas siglas em inglês (International Thermonuclear Experimental Reator), não produziu nem um só Watt de eletricidade por vários anos. Claro que está em fase de construção avançada mas não é esperado que esteja pronto antes de 2014 e até agora já foram gastos mas de 10 bilhões de dólares.
- "Não tenho dúvidas de que eventualmente funcione, mas tenho sérias desconfianças se chegará a ser uma fonte de energia econômica seja na Terra ou no espaço. Isto se deve ao fato de que os reatores que utilizam a fusão de Deutério e Trítio desprendem 80% de sua energia na forma de neutrons radioativos, que aumentam exponencialmente os custos de produção e de segurança. Ao contrário, a fusão do Hélio 3 produziria muito pouca radioatividade residual já que ele é um isótopo do conhecido Hélio utilizado para inflar balões e tem um núcleo com dois prótons e um neutron. Assim, um reator nuclear baseado na fusão do Hélio 3 e Deutério, que tem um só próton nuclear e um neutron, produziria muito poucos neutrons, menos ou próximo a 1% do número de neutrons gerados pela reação do Deutério e Trítio. Daria para construir-se uma planta de Hélio 3 com toda segurança no meio de uma grande cidade. A fusão do Hélio 3 é igualmente ideal para prover a energia das naves espaciais e para as viagens interestelares. Ao mesmo tempo que oferece o mais alto desempenho do poder de fusão." - diz Kulcinski.
Em contra partida Bryan Palaszewski, um ex-pesquisador da área de combustíveis avançados do Glenn Research Center de Lewis Field da NASA diz que:
- "Ainda que o Hélio 3 pareça sumamente apaixonante no ponto de vista técnico, primeiro temos que regressar à lua e ser capazes de realizar as operações de importância necessárias, pois me parece problemático e em princípio financeiramente inviável transportar Hélio 3 da lua para cá. Mas antes temos que aguardar até que os cientistas resolvam a física da fusão do Hélio 3."
Outro crítico do projeto é Jim Benson, presidente da SpaceDev que briga para ser uma das primeiras empresas comerciais na exploração do espaço. Lembram que no início do ano passado esta foi a empresa a colocar a primeira nave comercial (sem financiamento militar ou governamental) tripulada em órbita, mesmo que por poucos minutos?
- "A não ser que esteja equivocado, teríamos que devastar grandes superfícies na Lua, pois para produzir, por exemplo, 70 toneladas de Hélio 3 seria necessário esquentar um milhão de toneladas de solo lunar a uns 800 graus Celsius para liberação do gás. - Afirma Benson que tem como meta criar "postos de gasolina" no espaço enquanto na procura de fontes alternativas de energia:
Penso que o objetivo deveria ser a busca de água e não de Hélio 3 como fonte ideal de combustível. Vejam bem, a água pode ser eletrolizada em combustível de hidrogênio ou oxigênio, ou utilizada diretamente como um propelente mediante super-aquecimento com raios solares." - Viagem ou viagem???emoticomemoticomemoticom
Schmitt, conhecido inimigo pessoal e político de Benson diz que a proposta, a meta não é devastar a superfície lunar, pelo menos por enquanto já que somente em Mare Tranquilitatis há gás em suspensão suficiente para abastecer a Terra por centenas de anos ainda além de que no processo de mineração ou de fusão do Helio 3 seria produzido também, naturalmente a água e oxigênio. Afirma ainda que fontes muito mais ricas de Hélio 3 seriam as atmosferas de Saturno e Urano.
Conclusão: Apesar de esta matéria ser um compêdio de várias, iniciando lá no ano de 2000, as maiores evidências de que o projeto do Helio 3 está sendo levado a cabo são as especulações de várias viagens a Lua planejadas para os próximos anos. A propria NASA anunciou no final do ano que até 2020 estabelecerá um base internacional no satélite para permitir a chegada de astronautas e logo após uma colônia permanente. Para que será?
Tom Wegner, porta-voz da Crazyshops, empresa que vende lotes de terra lunar em Israel, em entrevista ao jornal Jerusalem Post disse que os israelenses já compraram 10% dos cerca de 40 milhões de km2 da superfície lunar disponíveis para a venda a civis a um valor de R$ 132,00 o hectare.
Bem verdade que é preferível que o homem, se puder, explore o espaço lá fora e deixe Gaia descansar, recuperar-se; mas com certeza quero morrer antes de ver a lua toda furada como queijo suiço.
P.S.: Para quem tem mais de 30, fica aqui a curiosidade; Lembram-se de Buck Rogers, o primeiro herói espacial de história em quadrinhos da história? Pois é, a propulsão de sua nave era a base de Hélio 3.
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