CRÔNICAS DO TEMPO E DA PACIÊNCIA

A Jornada Acadêmica

Hoje sou um homem de 31 anos. Quem diria? Contra todas as estatísticas de expectativa de vida para jovens nascidos em regiões com altas taxas de criminalidade, onde cresci, romper barreiras foi para mim motivo de orgulho. Claro, o mundo evolui a um ritmo exponencial, enquanto o capitalismo avança em dinâmicas de tecnologia, inovação e ampliação do mercado consumidor. Tudo isso frente à precarização da mão de obra, salários corroídos pela inflação, jornadas de trabalho exaustivas e a exploração do trabalhador por meio de políticas que apertam, cada vez mais, o lombo dos menos favorecidos.

    Mesmo assim, consegui buscar uma melhor qualificação e concluir uma graduação na Universidade Federal de Pelotas, uma das melhores do país. Apesar da pandemia e das dificuldades financeiras, com a ajuda de bolsas e programas de permanência da instituição (como Restaurante Universitário, Auxílio Moradia e Transporte Estudantil), alcancei o que parecia distante. Fiz estágios remunerados e ingressei no mestrado acadêmico na mesma instituição. Agora estou no segundo ano, mais próximo do fim que do começo, restando poucas disciplinas optativas e a dissertação, que será o encerramento dessa etapa tão importante para minha carreira profissional. Tive ainda o privilégio de conhecer lugares, cidades e até sair do Brasil: em 2020, fui de bicicleta até Montevidéu com meu amigo.

A Casa da Minha Mãe


    Tenho uma casa, deixada pela minha mãe, aqui na cidade de Senador Canedo. Uma casa simples e humilde, que por pouco não perdemos para invasores e oportunistas que tentaram tomar o que é meu e de meu irmão. Apesar de focar na minha formação educacional, consegui impedir que a casa fosse tomada. Aqui estou, escrevendo essas palavras da sala, onde futuramente planejo uma reforma para transformá-la em um lar confortável. Não apenas por mim, mas principalmente para honrar o suor, sangue e sofrimento da minha mãe, que nunca teve a chance de desfrutar do sonho de reunir a família em uma casa bonita e feliz. Cada centímetro deste lugar me lembra dela, e de que não posso desistir. Foi por ela que muitos dos meus sonhos ganharam espaço, já que os dela foram enterrados para que eu e meu irmão pudéssemos ter uma oportunidade. Minha mãezinha literalmente se abdicou de tudo para que fôssemos mais longe do que ela, em sua profunda limitação, pôde ir.

Planos para o Futuro


       Em breve terei mais idade que meus pais tiveram. Se Deus permitir, ultrapassarei os 33 anos, idade em que minha mãe faleceu, vítima de um câncer no colo do útero. Até lá, pretendo, em nome dela, reformar a casa, comprar um carro e construir minha própria família. Para que, caso fosse possível, ela veja tudo de algum lugar e sinta que seu esforço não foi em vão. Tenho planos de crescer ainda mais na minha formação acadêmica, buscar o reconhecimento entre os homens, conquistar o que parecia impossível e viver uma vida plena, abundante. Quero que meu cálice transborde para aqueles que amo: familiares e pessoas próximas. Desejo ser bênção na vida de milhares. Para isso, preciso ser fiel a mim mesmo, jamais retroceder, não desanimar, não deixar que a depressão me domine. Meu desafio é cultivar em mim a resiliência e a fé de que tudo valerá a pena. Acredito que, um dia, chegará o momento da dupla honra, de ver os humilhados serem exaltados, e de vivenciar o cumprimento das bem-aventuranças. Ainda tenho a teimosia de acreditar que, mesmo num mundo cruel, conseguirei ser mestre de meu destino. Pois, como um mar revolto não afunda um bom navegador, os desafios não impedirão um marinheiro determinado.

O Exemplo de Isis



      Hoje é 5 de abril de 2025. Minha prima mais nova, filha da minha tia Eneida, está completando 30 anos. Uma jovem que é exemplo de superação e garra, de como alguém pode subverter a realidade com uma mentalidade transformadora. E também, claro, disposição para arriscar tudo — ainda mais quando esse "tudo" não vale muito. Saiu de Goiânia, da Vila Montecelli, onde tinha um emprego simples e uma vida de roteiro previsível. Decidiu partir para o Sul do país. Lá, viveu situações únicas, encontrou pessoas das mais diversas e enfrentou barreiras naturais, por ser uma mulher negra do interior. Mas, com sua natureza altiva, não aceitou desaforos, não abaixou a cabeça, não temeu a pancadaria. Minha prima Isis, hoje biomédica formada, está inaugurando sua clínica de alto padrão em Porto Alegre, uma das maiores cidades do país. Vê-la vencer me deixa orgulhoso e feliz, por saber que nenhum esforço bem direcionado é em vão. Quando temos propósito e somos fiéis a nós mesmos, as coisas ao nosso redor se alinham, e nossa trajetória começa a fazer sentido.


      Atualmente meus desafios são mais simples e objetivos, tenho sim desejo e acredito que ainda dá tempo de formar uma família, ter uma mulher, companheira, com quem poderei dividir minha vida, quem sabe, mas para isso eu sei que na minha atual condição é algo que vai ter que esperar, sei que a estética conta muito, mulheres hoje em dia estão muito exigentes, e eu luta pra não surtar nem entrar na pilha, mas o cuidado com o corpo é sim, fundamental, até mesmo para o desempenho sexual, ter uma rotina saudável, ter um cuidado com a saúde, física, mental e financeira, não ser chato, não ser bitolado, mas também não ser relapso, tudo isso é uma construção, que eu com meus 31 anos ainda estou longe de ter realizado. Estou em um emprego estável, comecei a treinar na academia aqui perto de casa, consegui manter uma rotina e frequência de exercícios e atividade física, só que a jornada é longa, ainda me resta cuidar do principal que é a alimentação saudável, ter uma boa prática alimentar, que é a maior parte responsável pelo equilíbrio do peso ideal e da boa qualidade de vida. Ter uma noite de sono audável, dormir o mínimo de horas, pra acordar disposto, que meu sono seja o melhor aliado da minha memória, e vou precisar já que meu trabalho exige um nível intelecutal, pois é uma área nova pra mim, que exige que eu absorva bem os conceitos e os detalhes que fazer parte do dia a dia da auditoria. 

Enfim, estou trabalhando quem eu sou, sem esquecer do que já fui e do que posso ser, depende apenas de permanecer em busca da meta clara e objetiva, não se desviar nem para a esquerda nem para a direita.

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